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Portugal consome muito mais peixe do que o resto do mundo. o futuro tem de passar pela aquacultura

Segundo a FAO, "Portugal tem uma média de consumo de muito mais alta do que a média mundial" de produtos provenientes do mar. Não é possível aumentar as quotas de pesca, por isso a aquacultura é a melhor solução para continuar a comer peixe "de consciência tranquila".



Audun Lem, diretor adjunto da Divisão de Políticas e Economia da Pesca e Aquacultura da FAO © TSF



Sardinhas assadas, carapaus fritos ou 365 formas de confecionar bacalhau. Portugal é um dos maiores consumidores de peixe do mundo, mas para assegurar que continua a sê-lo no futuro é preciso investir cada vez mais na aquacultura, defende Audun Lem, diretor adjunto da Divisão de Políticas e Economia da Pesca e Aquacultura da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).


Em entrevista à TSF à margem da Conferência dos Oceanos, em Lisboa, Audun Lem explica que uma das principais preocupações da FAO é "garantir que os pescadores e pessoas ligadas ao setor das pescas e agricultura possam continuar a desenvolver as suas atividades e de forma sustentável para garantir que continuem disponíveis para as gerações futuras".

Para tal, é importante cumprir as quotas de captura, já implementadas, que determinam a quantidade de peixe que pode ser pescado em alto mar durante um determinado período.

"A curto prazo o maior desafio em Portugal, como em qualquer lugar do mundo, é assegurar que a capacidade para pescar está alinhada com os recursos disponíveis e garantir que a ciência os dados são usados para determinar a quantidade de capturas que podem ser feitas para evitar a pesca excessiva."

"Outra preocupação é manter a qualidade e segurança do peixe e produtos derivados para proteger os consumidores", aponta Audun Lem, e "Portugal é um mercado famoso pela sua exigência de qualidade e fornecimento estável."

"Portugal é um maravilhoso exemplo de um país consumidor de peixe. Como norueguês também tenho orgulho em dizer que Portugal importa muito do nosso maravilhoso bacalhau da Noruega há centenas e centenas de anos".

"Consumir peixe de consciência tranquila"


Mais recentemente, cresceram as importações de salmão e truta de aquacultura. Esse é, defende o diretor adjunto da Divisão de Políticas e Economia da Pesca e Aquacultura da FAO, o caminho para assegurar que o peixe pode continuar a fazer parte da ementa.

"Cerca de 50% de todos os peixe e produtos derivados consumidos em todo o mundo são, atualmente, provenientes de aquacultura. Com capturas estáveis no mundo - como têm sido nos últimos 20 ou 30 anos - o aumento da procura decorrente do aumento da população mundial tem de ser sustentado pela aquacultura", reforça.

Este é "um setor muito dinâmico, que tem sido capaz de inovar e encontrar novas soluções", destaca Audun Lem. "O desafio é garantir a continuidade do crescimento da aquacultura para conseguir satisfazer a procura em Portugal e noutros países."

"Tenho a certeza que podemos continuar a consumir peixe de consciência tranquila, mas também é importante assegurar que a produção de peixe, a aquacultura e as pescas cumprem todas as regras e regulamentos para garantir que há peixe para sempre."

Os portugueses gostam de peixe - "Portugal tem uma média de consumo muito mais alta do que a média mundial" - e num país à beira mar plantado pôr peixe no prato não é particularmente difícil.

"O preocupante para nós é existirem regiões no mundo onde o consumo de peixe é muito muito menor do que a média mundial, como em África e algumas regiões da América Central. O desafio é garantir o fornecimento de peixe e produtos derivados a essas regiões do mundo que consumem muito menos do que o remendado do ponto de vista nutricional. O peixe é um maravilhoso produto - não fornece apenas proteína mas também uma série de micronutrientes importantes no desenvolvimento", especialmente nos primeiros anos de vida. "As mulheres grávidas são aconselhadas a aumentar o consumo de peixe por este mesmo motivo."

Segundo a FAO, a melhor maneira de garantir o acesso nos locais onde o consumo é muito baixo é estimular a produção local de espécies nativas que podem ser adquiridas por preços mais baixos do que os produtos importados.

São precisas políticas para "aumentar a aquacultura doméstica e reduzir o desperdício", defende Audun Lem. "Há muito desperdício da indústria alimentar no geral, mas em especial nos produtos de peixe, já que é um produto perecível e delicado", que dificulta a conservação nos climas tropicais.


|Fonte: TSF, 28 de Junho 2022

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