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Odemira. Só nesta semana 1600 toneladas de alimentos foram para o lixo

As empresas dizem estar dispostas a pagar os testes aos trabalhadores, mas não obtiveram resposta das autoridades de saúde.


5 Maio 2021 Dinheiro Vivo



Só nesta semana 1600 toneladas de alimentos vindas das produções agrícolas em Odemira foram para o lixo devido à situação de cerca sanitária. Neste momento, as empresas já registam 6 milhões de prejuízos com esse desperdício alimentar, mas Gonçalo Santos Andrade, vice-presidente da Confederação de Agricultores de Portugal (CAP), teme que os custos a médio e longo prazo sejam ainda superiores. "Vamos ser substituídos por fornecedores de outras geografias". As empresas dizem estar dispostas a pagar os testes aos trabalhadores, mas não obtiveram resposta das autoridades de saúde. A CAP admite que venham a pedir ao Estado que sejam ressarcidas dos prejuízos.

"Estes prejuízos imediatos vão ser depois muito superiores no médio e longo prazo. Os clientes que ficaram privados nos seus contratos com as empresas de 1600 toneladas, além de nos irem penalizar a nível comercial, porque incumprimos com a entrega, vamos ser substituídos por fornecedores de outras geografias", diz Gonçalo Santos Andrade, quando questionado pelo Dinheiro Vivo sobre o impacto da cerca sanitária.

"Ao não termos acesso às quintas, ao nível de cerca de 40% dos trabalhadores que estão no território, podemos estar com estes prejuízos imediatos, mas com prejuízos mais avultados que não consigo dar neste momento da substituição desses clientes da importação de outros produtos", diz. "E mesmo a nível nacional estamos a ser substituídos por outras regiões que, maioritariamente, não são nacionais. São produtos que vêm de outros países".

Portugal exportou 1,683 mil milhões de euros de frutas, legumes, plantas ornamentais e flores o ano passado, uma subida de 4,4% face ao ano anterior em valor, em contraciclo com a generalidade dos setores da economia nacional, apesar da ligeira queda em volume, de acordo com os dados do INE. Espanha, França, Países Baixos, Reino Unido e Alemanha foram os cinco principais mercados destino. A região representa cerca de 15% das exportações, lembra Gonçalo Santos Andrade, presidente da Portugal Fresh, entidade que representa o setor.

Empresas dispostas a pagar testes sem resposta


Neste momento, duas freguesias do concelho de Odemira estão sujeitas a uma cerca sanitária, o que tem impedir o acesso às áreas de produção. "Todos percebem que ninguém quer passar trabalhadores de dentro para fora (da cerca) sem um teste com 48h ou 72h. Fizemos oportunamente esse pedido. Até agora não temos nenhuma resposta positiva, mas é algo que convém que tenha um desbloqueio imediato, porque não estamos apenas a falar do desperdício alimentar que estamos a ter neste momento, mas do que vamos ter nas próximas semanas, por estarmos a incumprir com os nossos clientes", afirma Gonçalo Santos Andrade.


"As empresas já se disponibilizaram em várias reuniões a pagar os testes", responde o vice-presidente da CAP quando questionado pelo Dinheiro Vivo que as empresas estavam dispostas a custear os testes. "Agora convém que o Estado monte a operação de contabilizar, fiscalizar e dar apoio a essa operação. Não são as empresas que têm de montar centros de testagem", ressalva.

"As empresas já se disponibilizaram a pagar os testes. É um caso que mostra a diferença abismal entre o mundo urbano e o rural não conheço caso em que os testes não sejam suportados pelo Estado", atira.

"As empresas de trabalho temporário precisam de maior fiscalização"

Com os prejuízos já nos 6 milhões - e ainda sem um fim á vista no que toca ao acesso as áreas de produção - a CAP admite que as empresas vejam a pedir ao Estado o ressarcimento pelos prejuízos. "As empresas ficaram com os produtos em casa a apodrecer. Esta é uma medida extraordinariamente grave. O Estado tem de assumir essa responsabilidade. Muito provavelmente haverá empresas que querem ser ressarcidas, e muito bem, dos milhões de prejuízos que tiveram, quando não estão na origem do problema", diz Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da CAP, quando questionado pelo Dinheiro Vivo.

A CAP já tinha acusado o Estado de "sacudir a água do capote" no que toca à situação de sobrelotação vivida pelos trabalhadores agrícolas no concelho, lembrando ainda que desde 2019 não foi autorizada nenhuma nova licença de habitação temporária nas quintas.



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