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“Hábitos enraizados” contribuem para o desperdício alimentar em Portugal, refere Tiago Figueiredo da Too Good to Go

  • Writer: UCD
    UCD
  • 1 day ago
  • 6 min read

“Muitas vezes, desperdiçamos comida não porque nos apeteça fazê-lo, mas por hábitos enraizados de que nem sempre estamos conscientes como, por exemplo, a falta de planeamento”, refere Tiago Figueiredo, ínterim PT country director da Too Go to Go.


Jornal Económico


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O desperdício alimentar ainda é uma preocupação e um desafio em Portugal. De acordo com os dados mais recentes, em 2023 desperdiçaram-se 1,93 milhões de toneladas de alimentos.


Apesar do elevado número de desperdício, esta é uma preocupação para mais de 83% dos portugueses.


Com o mote de terminar com este desperdício, Tiago Figueiredo, ínterim PT country director da Too Go to Go, falou com o JE sobre o que falta fazer nesta área e o que leva a este desperdício.


Numa altura em que o tema da sustentabilidade está tão na ‘moda’, como é que o desperdício alimentar ainda acontece em tão elevados números?


É verdade que hoje se fala muito de sustentabilidade, e isso é um sinal muito positivo, porque demonstra uma consciência crescente. O mesmo acontece com o desperdício alimentar: o tema está cada vez mais presente e, segundo um estudo que realizámos na Too Good To Go, oito em cada dez portugueses afirmam que o desperdício de alimentos é algo que os preocupa muito.


No entanto, os números continuam elevados. Isso deve-se ao facto de ser um problema complexo, que ocorre em todas as etapas da cadeia alimentar, desde a produção e distribuição até às nossas casas.


Muitas vezes, desperdiçamos comida não porque nos apeteça fazê-lo, mas por hábitos enraizados de que nem sempre estamos conscientes como, por exemplo, a falta de planeamento, a confusão com as datas de validade, cozinhar em excesso ou não saber como aproveitar bem os alimentos. Mas o problema não é apenas dos consumidores. Também exige mudanças estruturais nos sistemas e na forma como os alimentos e excedentes são geridos nas fases anteriores da cadeia.


Como está o desperdício dos portugueses face aos restantes europeus?


Todos os anos o Eurostat publica um relatório que analisa o desperdício alimentar nos países da União Europeia. Segundo o mais recente, na Europa são desperdiçadas 59 milhões de toneladas de alimentos por ano — o equivalente a uma média de cerca de 132 quilos de comida desperdiçada por pessoa, anualmente.


De acordo com os dados desse relatório, só em Portugal o desperdício alimentar atinge 1,9 milhões de toneladas por ano, o que equivale a uma média de cerca de 183 quilos de comida desperdiçada por pessoa — um valor acima da média europeia, que coloca o país como o quarto que mais comida desperdiça por habitante.


Os números são preocupantes e reforçam a urgência de implementar medidas que ajudem a reduzir o desperdício, pelos seus impactos sociais, económicos e ambientais.


Para além da sensibilização que já tem sido feita ao longo dos anos, que mais é que se pode fazer para desincentivar este desperdício?


Ainda há muito por fazer. Na Too Good To Go trabalhamos todos os dias para ajudar a reduzir o desperdício alimentar. Fazemo-lo através da nossa aplicação, que liga utilizadores a milhares de restaurantes, supermercados, hotéis, padarias e outros negócios de alimentação que vendem Surprise Bags com o seu excedente diário de comida a preços muito reduzidos — entre 50% e 75% de desconto. Desta forma, os estabelecimentos não precisam de deitar comida fora e geram receitas adicionais; os utilizadores compram comida de qualidade por muito menos dinheiro e todos juntos evitamos o impacto ambiental e social do desperdício alimentar. Recentemente lançámos também a Too Good To Go Platform, uma nova solução baseada em inteligência artificial que ajuda o setor retalhista a monitorizar e detetar antecipadamente produtos próximos do fim do prazo de consumo, permitindo encontrar alternativas e evitar o seu desperdício.


Além disso, desenvolvemos campanhas e ações de sensibilização, como a iniciativa “Observar, Cheirar, Provar”, criada para combater a confusão que ainda existe em torno da data de consumo preferencial — uma das principais causas de desperdício em casa. A etiqueta está atualmente presente em mais de 700 produtos de 45 marcas em Portugal, e pretende lembrar que a data de consumo preferencial é apenas um indicador de qualidade. Antes de deitar fora, vale a pena usar os sentidos para verificar se o produto ainda está bom, evitando assim o desperdício desnecessário.


Acreditamos igualmente que é essencial promover a colaboração entre empresas, associações, consumidores e governos, através de medidas e iniciativas conjuntas que nos aproximem do objetivo comum: desperdício zero. Aliás, segundo o nosso estudo mais recente, 90% dos portugueses apoiariam a aprovação de uma lei contra o desperdício alimentar — algo que já é uma realidade noutros países europeus, como França, Itália e, mais recentemente, Espanha.


Porque é que as pessoas ainda desperdiçam tanta comida, numa altura em que os preços estão elevados e os salários muitas vezes curtos?


Acredito que o aumento dos preços dos alimentos tem levado as pessoas a tornarem-se mais conscientes da importância de não deitar comida fora. Segundo o nosso último estudo, 9 em cada 10 portugueses afirmam que agora tentam reduzir mais o desperdício alimentar em casa precisamente devido à subida dos preços e ao impacto no orçamento familiar.


No entanto, ainda se desperdiça muita comida, e isso está relacionado com os ritmos de vida acelerados do dia a dia e com hábitos de que nem sempre temos consciência, como a falta de planeamento, o pouco tempo para organizar a despensa ou para cozinhar.


A verdade é que desperdiçar comida sai caro, tanto para a carteira como para o planeta.


Quais os impactos ambientais que este desperdício têm?


O desperdício alimentar é uma das causas silenciosas da crise climática. Segundo dados da WWF, todos os anos são desperdiçados no mundo mais de 2.500 milhões de toneladas de alimentos, o que equivale a cerca de 79 toneladas de comida desperdiçadas por segundo em todo o mundo. Este fenómeno tem um impacto direto no nosso planeta: estima-se que o desperdício alimentar seja responsável por 10% das emissões globais de gases com efeito de estufa, ou seja, quatro vezes mais do que as produzidas por todo o setor da aviação.


Além disso, quando desperdiçamos comida, desperdiçamos também os recursos naturais usados para a produzir. Calcula-se, por exemplo, que um quarto de toda a água doce disponível e quase 30% das terras agrícolas do mundo sejam utilizadas para produzir alimentos que acabam por não ser consumidos. Por tudo isto, reduzir o desperdício alimentar é já identificada, por especialistas, como a solução número um para ajudar a travar as alterações climáticas.


A criação de mais plataformas como a Too Goo To Go ajudaria a combater este desperdício?


Sem dúvida. O desperdício alimentar é um problema global e complexo, que exige múltiplas soluções ao longo de toda a cadeia de valor.


A Too Good To Go nasceu para inspirar e capacitar todos a agir contra o desperdício alimentar e fazemos isso através da nossa aplicação e de campanhas de sensibilização. Mas sabemos que sozinhos não conseguimos resolver o problema. É fundamental que existam mais iniciativas, ferramentas, programas educativos e colaboração entre empresas, consumidores e governos, para que possamos gerar impacto coletivo e reduzir os números do desperdício. Neste tema, não há concorrência, porque todos partilhamos o mesmo objetivo: garantir que a comida não é desperdiçada.


Durante os seus anos de atuação em Portugal, quanto é que a Too Good To Go conseguiu salvar do desperdício alimentar?


Começámos a atuar, em Portugal e contra o desperdício alimentar, em outubro de 2019 e, desde então, já foram salvas através da nossa aplicação mais de 6,5 milhões de Surprise Bags, o equivalente a evitar o desperdício de mais de 6.500 toneladas de alimentos em apenas seis anos.


A nível global, operamos em 19 países e já foram salvas mais de 500 milhões de Surprise Bags com comida em bom estado, que foi aproveitada em vez de desperdiçada.


Qual o impacto que a vossa plataforma tem e quantos utilizadores é que já angariou?


A nível global, contamos com uma comunidade de mais de 120 milhões de utilizadores e mais de 180.000 estabelecimentos a salvar comida todos os dias através da aplicação


Só em Portugal, temos atualmente uma comunidade de mais de 4.000 estabelecimentos – desde pequenas padarias e negócios locais até grandes cadeias como Auchan, Continente, A Padaria Portuguesa, Gleba, Telepizza, entre outras – que se juntaram à nossa iniciativa e contamos, ao dia de hoje, com mais de 2 milhões de utilizadores.


Como referi antes, graças à nossa comunidade de estabelecimentos e utilizadores, já foram salvas mais de 6,5 milhões de Surprise Bags através da aplicação em Portugal, o que se traduz num enorme impacto positivo para o planeta – evitámos já a emissão de 17.500 toneladas de CO2e, o equivalente às emissões produzidas por mais de meio milhão de carros a viajar de Lisboa ao Porto, ou às geradas por mais de 78.000 televisores ligados durante um ano inteiro.


Além disso, graças a toda essa comida aproveitada, evitámos também o desperdício de mais de 5.000 milhões de litros de água, a quantidade necessária para encher mais de 2.100 piscinas olímpicas.


Estes números mostram a força da ação coletiva: cada utilizador que abre a app e salva uma Surprise Bag, cada padaria que se junta, cada refeição que é aproveitada contribui para um impacto real e mensurável.





 
 
 

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