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Agroalimentar. Todos mobilizados para inovar na alimentação

Pensar fora da caixa e partilhar informação sobre o que está a ser feito em termos de inovação - foi o conceito do Dare2Change que, na sua segunda edição, reuniu cerca de 400 pessoas, entre alunos, empresas do setor, investigadores e académicos





A sociedade mundial tem de alterar a forma como se alimenta, seja em termos de ingredientes ou na forma como são produzidos. É impossível continuar assim e alimentar uma população em crescendo. Mas isso só se consegue com inovação, com partilha de informação, com o colocar a tecnologia (também) ao serviço da alimentação.

“Nos últimos 50 anos, a produção alimentar causou 70% da perda de biodiversidade em terra e 50% em água doce”, refere a ANP, no seu site. Também “estamos a consumir mais do que o planeta consegue produzir e esse facto põe a nossa saúde e natureza em perigo”, segundo a página do Eat4Change. Daí a necessidade de mudar a forma como consumimos os alimentos.


Foi esse o espírito da segunda edição do Dare2Change, um encontro organizado pela PortugalFoods, no Porto, que reuniu cerca de 400 pessoas, entre alunos, empresas do setor, investigadores e académicos.


O aparecimento dos Laboratórios Colaborativos (CoLAB) veio acelerar a temática, apesar de alguns ainda estarem numa fase de arranque.


A propósito, Deolinda Silva, diretora executiva da PortugalFoods, lembra que as universidades, os politécnicos e os centros de Investigação e Desenvolvimento (I&D) que existem "são muito bons, têm equipas maravilhosas e têm contribuído de forma brutal para o crescimento e para a interação universidade/empresa e, no fundo, para aquilo que é a investigação aplicada e a valorização económica do conhecimento".


"Os CoLAB são mais um elo e mais um ator que surge através de uma dinâmica que o antigo ministro da Ciência, Manuel Heitor, quis criar com estruturas que permitissem ter recursos altamente qualificados ao serviço das empresas", aponta a diretora da associação do setor agroalimentar.


Ao trazerem "mais pessoas altamente qualificadas, os CoLAB vão ter também um papel fundamental naquilo que é a capacidade de as entidades do sistema científico e tecnológico trazerem conhecimento e valorização económica às empresas", sublinhou a dirigente.


Questionada sobre a evolução do setor e a sua resposta à pandemia e ao pós-pandemia, Deolinda Silva considera que o setor mantém um passo de crescimento a todos os níveis. Mesmo numa situação de pós-pandemia e, agora, em situação de guerra, "a verdade é que o setor tem mantido o seu nível de crescimento quer naquilo que é o seu contributo para as exportações nacionais (com valores até superiores ao que estava a ser partilhado em 2019) - e, em termos de inovação, a dinâmica é permanente e contínua -, quer seja na presença em grandes projetos mobilizadores".


Neste momento, antecipa que aguardam pelo Portugal 2030 para avançar com um novo projeto mobilizador. Até agora, "o grande desafio foi criar e realizar esta Agenda Mobilizadora no âmbito do PRR" - designada por VIIAFOOD (um consórcio liderado pela Sonae MC e coordenado pela PortugalFoods) - que "muito nos orgulha, dado que agrega 49 entidades, com um investimento em torno dos 100 milhões de euros".



VIIAFOOD: Pacto de inovação agroalimentar


Por ocasião do Dare2Change, foi apresentada a Agenda VIIAFOOD, uma plataforma de valorização, industrialização e inovação do agroalimentar, um setor que movimenta 21 mil milhões de euros, o segundo setor com maior peso no PIB (6%), e com 3,5 milhões de euros de Valor Acrescentado Bruto (dados divulgados pela PortugalFoods e pelo INE, relativos a 2019).


Como apontou Marlos Silva, diretor da área de Digital & Innovation na Sonae MC, o consumidor tem hoje um maior cuidado com a sua alimentação, procurando comprar produtos mais saudáveis.


Por esse motivo, a VIIAFOOD tem como objetivo, por um lado, proporcionar o desenvolvimento de novos produtos, de novas embalagens, permitir uma maior eficiência, mas também a criação de novos processos. No fundo, explica o executivo, trata-se de promover a transformação estrutural do setor agroalimentar, através de quatro grandes tipologias de investimento: "Em inovação produtiva, para estimular a competitividade do setor; em I&D, possibilitando a transferência de conhecimento para promoção da inovação; em qualificação e internacionalização, por forma a promover a inovação em mercados internacionais; e em capacitação, proporcionado formação avançada para melhoria das competências dos profissionais do setor."


Esta é a resposta da atividade aos desafios que se avizinham, reunindo na mesma plataforma empresas, universidades, centros de I&D, associações e laboratórios colaborativos.





Mudar a forma como comemos


Seja por uma maior consciência com a sustentabilidade, seja porque a pandemia e a guerra na Ucrânia mostraram a dependência dos mercados, o certo é que, como lembra Paulo Monteiro Lopes, do Colab4food, "é necessário fazer uma disrupção na forma como comemos". Isto, apesar de reconhecer que o ecossistema nacional de inovação "está muito mais robusto" depois de todas as dificuldades dos últimos anos.


Essa não é a única questão que obriga a uma mudança. Como lembrou Daniel Ramón Vidal, da ADM, o mundo enfrenta alguns problemas graves, a começar pela fome que avassala certas regiões. "É certo que é um problema focalizado, mas tem de ser resolvido". Por outro lado, e em contradição, há outras regiões do globo que passam pelo problema oposto: a obesidade. O executivo aponta mesmo que, desde 1975, o número de pessoas obesas triplicou. E isto tem um papel importante não só na saúde como a nível económico.


Junta-se ainda a questão da inversão da pirâmide populacional, com o respetivo envelhecimento, "agravado pelo facto de haver cada vez menos crianças, em grande medida, pelo aumento da infertilidade". E depois há a questão do desperdício alimentar que, no caso dos países desenvolvidos, deve-se, em boa parte, à aquisição não consumida, enquanto nos países mais pobres ocorre, na maioria das vezes, por estruturas de armazenamento sem as condições adequadas à conservação dos alimentos.


Para Daniel Ramón Vidal, o futuro da indústria agroalimentar está na interligação entre segurança alimentar, saúde e sustentabilidade. Sendo que "as questões relacionadas com a logística, marketing e ciência e tecnologia só se podem resolver com investimento em ciência e tecnologia", sublinha.



A sustentabilidade e o seu impacto no retalho


As embalagens são, provavelmente, o calcanhar de Aquiles quando se pensa na relação entre sustentabilidade e retalho, em especial, as de plástico. No entanto, é verdade que o setor tem vindo a tomar medidas no sentido de, por um lado, minimizar a sua utilização, procurar materiais alternativos e, simultaneamente, apelar à sua reciclagem, por forma a utilizar a economia circular. Sobre este tema, Rita Coelho do Vale, da Católica Lisbon - School of Business and Economics, mostrou as diferenças entre os chamados produtos de marca e os produtos de marca da distribuição.


Segundo dados da PortugalFoods, as marcas (private label) têm revelado uma maior consciência ao nível do lançamento de novos produtos com posicionamento ético, seja em termos de embalagem, ambiente, social ou animal. Os dados apontam mesmo para uma grande preocupação com o packaging, com as marcas a investirem na oferta de embalagens mais sustentáveis. A questão, revela a professora, é que o investimento é feito de forma desequilibrada entre as várias vertentes. A solução (ou desafio), defende Rita Coelho do Vale, passa por adotar uma abordagem mais holística.


Mas não basta dizer que se está a trabalhar numa estratégia sustentável ou apresentar novos produtos. Como aponta a docente, os "novos" consumidores querem que as empresas (e as marcas) tenham um propósito. O estudo "Strength of Purpose" revela que 83% dos inquiridos indicaram que as empresas deveriam ter lucro apenas se conseguissem também ter um impacto positivo na sociedade.


Os dados divulgados indicam as vantagens de se apostar nesse tipo de estratégia: a probabilidade de o consumidor comprar a marca aumenta 4 vezes e há 6 vezes maior probabilidade de proteger a marca num momento difícil. Sem esquecer o aumento dos níveis de recomendação e de confiança na marca.



|Fonte: Dinheiro Vivo, 15 de abril 2023

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