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Medida de combate à Covid-19 está a causar desperdício alimentar na Noruega

O governo norueguês só permite que os bares vendam álcool como acompanhamento de refeição. Resultado: as pessoas pedem o prato mais barato e não lhe tocam. Um bar em Tromsø chegou a mandar 90 salsichas para o lixo numa só noite


15 Fevereiro 2021 Visão


Desde novembro que a Noruega enfrentava um aumento significativo dos casos de Covid-19. Como resposta, implementou uma série de medidas de combate à pandemia, entre as quais a proibição de venda de álcool em restaurantes e bares. A 29 de janeiro o Ministério Norueguês da Saúde atualizou estas medidas, sendo que a partir daí passou a ser possível a venda de álcool, mas com regras. Uma delas é que só se pode servir álcool ao mesmo tempo que a comida.


A medida está a provocar um grande desperdício alimentar no país escandinavo. Os proprietários dos estabelecimentos que servem álcool na Noruega queixam-se de que os consumidores só pedem comida porque a lei o exige, para acompanhar as bebidas alcoólicas, e não a comem, segundo a NRK, a estação pública norueguesa de televisão.


O proprietário do Prelaten, um bar na cidade de Tromsø, no norte da Noruega, diz que chegou a deitar fora 90 salsichas numa noite. Arthur Mack relata que os clientes pedem as salsichas porque são o prato mais barato do menu, e depois não as comem. “Muitas pessoas não estão interessadas em comer, querem apenas um copo de vinho ou uma cerveja.”


Em Hammerfest (a cidade com mais de 6 mil habitantes mais a norte no mundo), o prato sacrificado é a sopa de tomate. Marius Heitmann Jørgensen, dono do bar local Fresh, conta que as sopas já tinham sido adicionadas ao menu para permitir aos clientes poderem matar a fome sem terem de consumir uma refeição inteira. Mas agora muitas sopas acabam por voltar para a cozinha.


Não podemos obrigar a comer, diz ministro


“É uma pena que o estado de emergência faça com que os alimentos na restauração sejam deitados fora. Espero que quem trabalha com as medidas de combate à pandemia encontre uma solução, para evitarmos que os alimentos vão para o lixo”, pede Ingrid Kleiva Møller, consultora da Future in our Hands, uma organização ambiental norueguesa.

Num email ao NRK, Sveinung Rotevatn, Ministro do Clima e do Ambiente, diz que “a tendência na sociedade atual é para que o desperdício alimentar vá diminuindo”. “Mas não consideramos normal nem conveniente exigir que os indivíduos comam os alimentos que pediram.”


Segundo um relatório com dados de 2015 a 2018, o desperdício alimentar na Noruega é maioritariamente doméstico (58%). Depois do desperdício caseiro, segue-se o dos produtores (20%), revendedores (16%), hotéis, refeitórios e lojas de conveniência (cerca de 5%), e por fim o setor das vendas por grosso (1%).


Apesar de ser um dos mais ricos países do mundo, não deixa de haver fome na Noruega. Os bancos alimentares têm tido um papel importante durante a pandemia, devido ao aumento da pobreza. De março a julho do ano passado, houve um crescimento de 24% no volume de comida que as organizações levantaram dos bancos alimentares.


A atividade dos bancos alimentares na Noruega pode ter também um impacto positivo no desperdício alimentar. De acordo com Ingrid Kleiva Møller, “os alimentos que sobram de lojas e restaurantes deveriam ser doados às organizações de caridade”. Mas acrescenta que, acima de tudo, deveriam ser desenvolvidas medidas legais para combater o problema do desperdício.


Uma medida semelhante à norueguesa foi implementada em Portugal em setembro: depois das 20h, era permitido vender álcool nos cafés, bares e restaurantes apenas no acompanhamento das refeições. A regra causou algumas polémicas. A mais mediática aconteceu na Festa do Avante – milhares de pessoas partilharam uma fatura com uma cerveja vendida após as 20h, acusando os organizadores de desrespeitarem a lei. Mas a fatura mostrava que também havia sido comprada uma carcaça, o que automaticamente tornava a transação legal.




Fonte: Visão

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