E se o planeamento da transição alimentar se juntasse às políticas de ordenamento e de desenvolvimento territoriais? É essa união que vai enquadrar a FoodLink – Rede para a Transição Alimentar na Área Metropolitana de Lisboa (AML), que foi apresentada nesta terça-feira à tarde, na sede da AML, em Santa Apolónia. Até 2030, a expectativa é a de que esta rede consiga assegurar cerca de 15% do aprovisionamento alimentar deste território.
Depois de dois anos de incubação no âmbito do projecto ROBUST e de diferentes designações, a FoodLink é agora oficialmente lançada com o apoio de 29 parceiros, entre os quais a AML, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT), o ICS-Ulisboa, bem como várias autarquias e associações e empresas ligadas ao sector alimentar.
Segundo o consórcio, esta é a primeira rede portuguesa do género a ver na aliança aos instrumentos de ordenamento do território, com suporte na CCDR, uma forma de alavancar e gerir a transição alimentar num território. “Definir e incluir o planeamento alimentar na política de ordenamento do território é absolutamente necessário e está em linha com tudo o que se preconiza com a política de coesão territorial”, sublinhou a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, durante o evento.
Ao “planear, pela primeira vez, a transição alimentar da maior área metropolitana do país”, a AML vai, elenca a ministra, reduzir a pegada carbónica e a necessidade de transporte, aproveitar melhor os recursos (água, energia, biodiversidade), melhorar a alimentação e a qualidade dos produtos, diminuir o desperdício e promover a inclusão social, a lógica de proximidade, o comércio mais justo, a paisagem e o bem-estar das pessoas.
Tratando-se de um território que, apesar da pressão urbana, dispõe de 38% de terras para uso agrícola e outras condições favoráveis a esse uso, a AML prevê que a FoodLink seja capaz de, até 2030, assegurar cerca de 15% do aprovisionamento alimentar da área. Para isso, será feita uma aposta em modos de produção sustentáveis, em soluções inovadoras – por exemplo, na gestão da água para regadio, na conservação e do solo e na redução de fitofármacos –, e nas redes de distribuição hipocarbónicas e em circuitos alimentares de proximidade. Além disso, com a agenda mundial marcada pelo impacto da pandemia de Covid-19 e pelas crises climática e geoestratégica, a FoodLink procura assegurar a segurança, bem como a inclusão alimentar.
A cerimónia contou também com a assinatura de uma carta de princípios e de compromissos, o que, nas palavras da presidente da AML, Carla Tavares, “é o primeiro passo para que a próxima década seja mais resiliente, saudável, inclusiva e sustentável”. No final, houve ainda lugar a uma degustação de produtos locais – uma amostra do projecto AML Alimenta. Promovendo a alimentação sustentável e de proximidade, a dieta mediterrânica e o combate ao desperdício alimentar, este projecto, aprovado no final de Abril, irá também procurar trabalhar a dimensão do turismo e património gastronómicos no seio da AML.
AML JÁ TEM ESTRATÉGIA APROVADA
Reflectindo o trabalho em rede e de proximidade que irá guiar a FoodLink, Filipe Ferreira, secretário metropolitano da AML, adiantou, em entrevista à Smart Cities, que a AML e a CCDR-LVT acordaram, recentemente, desenvolver, em conjunto, uma estratégia de transição alimentar metropolitana. “Este processo, que queremos que seja muito participado, vai, acima de tudo, dar o enfoque estratégico àquilo que queremos fazer no futuro, o que queremos fazer no âmbito da dimensão económica, da dimensão do planeamento e, eventualmente, no âmbito da dimensão da educação”, descreveu.
Balizando-se nesta década, a estratégia irá investir não só na componente da produção como nas de comunicação e interligação com a comunidade escolar para a sustentabilidade do consumo. “Elaborámos uma campanha de comunicação direccionada aos 2,8 milhões de habitantes da nossa região, em que iremos trabalhar a questão da sustentabilidade do consumo, que é muitíssimo importante”, acrescentou.
Sublinhe-se que a capacitação e a educação para a transição alimentar fazem parte dos pilares temáticos de um dos grupos de trabalho da nova rede. Além deste, a FoodLink tem mais dois grupos de trabalho, um na dimensão do planeamento do território para a transição alimentar e outro na vertente de encarar a transição alimentar como vector de coesão sócio-territorial.
|Fonte: Smart Cities, 9 de Junho 2022
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