A ideia de que a culinária pode criar e estreitar laços é partilhada pela nova embaixadora norte-americana em Lisboa, Randi Charno Levine, e pelo chef Art Smith, seu amigo, que hoje prepararam refeições para distribuir por comunidades necessitadas.
Numa das suas primeiras ações em terras portuguesas, a embaixadora esteve com alguns membros do seu 'staff' a apresentar o projeto do Departamento de Estado dos Estados Unidos que procura, através da culinária, interagir com diferentes públicos-alvo, incluindo as comunidades mais marginalizadas.
"Penso que o propósito do programa 'Culinary Diplomacy', para nós, é criar laços através da culinária, da comida, que é uma excelente plataforma para juntar pessoas, falando não só de comida, mas também de segurança [alimentar]", disse à Lusa Randi Charno Levine.
Para a embaixadora, a segunda mulher a chefiar a representação diplomática norte-americana em Lisboa, a escolha do seu "amigo de longa data" para estar hoje presente na confeção de cerca de 100 refeições, que à noite vai entregar para serem distribuídas pela Refood, foi "muito fácil".
"O programa 'Culinary Diplomacy' é algo que falámos em trazer para Portugal e quando o chef Art Smith falou connosco foi muito fácil. Aproximar as pessoas através da comida é uma das formas mais importantes de criar laços. A comida junta as pessoas num modo feliz, aprazível, é um modo excelente de partilhar", salientou a diplomata apresentada pela Casa Branca como "uma defensora das artes e líder da diplomacia cultural".
Com a missão de fortalecer os laços entre os dois países, Randi Charno Levine contou com o apoio do norte-americano Art Smith que qualificou de "extraordinário" e com um "grande sentido humanitário", para a ajudar no seu primeiro grande projeto em Portugal.
"Queremos entrar na comunidade portuguesa, com a embaixada e os nosso programas focados em alimentação, com artes, com entretenimento, música, tudo coisas que acreditamos com as quais podemos criar laços culturais porque há uma grande comunidade norte-americana em Portugal", frisou.
"Estamos ansiosos por trabalhar com o governo português e com a sociedade civil portuguesa, com as pessoas, um pouco por todo o país, estreitar os laços e torná-los mais fortes através do diálogo e destes projetos entre os dois países", salientou.
Apesar de considerar que o desafio de preparar 100 refeições não é "muito fácil", o chef, dono de vários restaurantes, além de ter sido chef pessoal da apresentadora norte-americana Oprah Winfrey, ressalvou a importância do respeito pelos alimentos que se estão a confecionar, pois o mais importante "é que seja saboroso", mesmo que em grandes quantidades.
"Quando é em grandes quantidades, o importante é respeitar e não manipular demais. A tendência quando se cozinha para muitas pessoas é manipular", confidenciou o chef, que esteve pela primeira vez em Portugal há 41 anos e que guardou na memória "o chouriço e o pão português".
Como defensor do aproveitamento de todos os produtos, Art Smith explicou à Lusa que todos os dias faz pão em casa e, quando sobra, ou faz 'crottons' ou acaba por dar às galinhas e aos patos porque "nada vai para o lixo".
É por isso, e ciente do impacto do desperdício que tenta combater a todos os níveis, que foi com "algumas sobras de legumes" que decidiu cobrir parte das 'foccacias' que serão distribuídas esta noite, reconhecendo que essas "provavelmente ainda vão saber melhor".
"Desperdiçar comida é um dos maiores pecados", apontou, contando uma experiência que não consegue esquecer porque o perturbou: "um mercado muito famoso nos Estados Unidos, onde as pessoas vão por ser orgânico e biológico e blá, blá e depois, nas traseiras, não era nada do que defendia", reconhecendo que, por vezes, os mercados mais pequenos "são muito mais conscientes".
Art Smith demonstrou também que "uma maçã não tem de ser perfeita para ser saborosa" e que "alguns dos produtos mais imperfeitos são aqueles que são mais saborosos".
"A embaixadora está focada e a criar programas, não só para crianças, mas também para adultos, que trabalhem com comida, com desperdício e sustentabilidade, culinária à base de plantas [planted based cooking]" disse, enaltecendo a importância da iniciativa da sua amiga.
Um dos segredos para uma refeição saborosa é também, segundo o chef, "fazer a comida com amor suficiente para que o seu sabor seja ainda melhor", considerando igualmente a importância de que "qualquer pessoa, na humanidade, deve poder comer o mesmo".
"O importante é que, sejas quem fores, com casa ou sem casa, não deve haver diferença naquilo que comes", salientou.
À Lusa, os voluntários que trabalham na Embaixada dos Estados Unidos em Lisboa classificaram de "excelente" esta experiência de cozinhar com leguminosas doadas pela empresa Legumechef, que trabalha com agricultores norte-americanos.
"Não é a forma como pensei que iria começar a minha manhã. Estou tão contente por poder contribuir e fazer parte de um gesto muito importante que sabemos que vai fazer a diferença neste dia para estas pessoas que vão receber as refeições", disse Ingrid Sousa, confessando estar a ter contacto com mais ingredientes frescos num só dia do que aquilo que terá no próximo ano.
Ingrid Sousa salientou ainda a boa energia do chef e a sua "boa disposição e boa vontade" que contagiou todos aqueles que partilharam consigo a cozinha na preparação das refeições.
Para Marta Moreno, foi "um pequeno esforço" que todos juntos tornaram em algo maior para "uma comunidade carenciada" que irá receber as refeições, confessando que cozinha "muito pouco", mas que a ajuda e o apoio do chef tornaram fácil todo o processo.
"É um espetáculo, quase que me sinto pequenina porque ele, embora seja um chef de renome, internacionalmente conhecido, acaba por estar ao nosso lado e ser como nós. É simultaneamente espetacular e humilde", frisou.
|Fonte: Notícias ao Minuto, 18 de Maio 2022
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