A GoodAfter cresceu 250% com a pandemia e tem já sete mil clientes. Uma das fundadoras diz que os clientes ganham duas vezes: os alimentos não são desperdiçados e as carteiras não ficam tão leves. Em quatro anos, esta iniciativa já salvou 225 toneladas de alimentos destinadas ao lixo.
16 Outubro 2020 Renascença
Um terço dos alimentos que produzimos no mundo a cada ano é perdido ou desperdiçado, custando à economia global quase 850 mil milhões de euros anualmente.
Foi para combater este flagelo em Portugal que nasceu a plataforma GoodAfter, o primeiro supermercado português de produtos que se encontram perto da data preferencial de consumo. O projeto já salvou dos caixotes de lixo mais de 225 toneladas de alimentos, o equivalente a mais de 200 mil unidades de 8 mil produtos diferentes nos quatro primeiros anos de atividade.
Em Portugal contabiliza já sete mil clientes, dos quais metade fica fidelizado e repete compras semanalmente ou de 15 em 15 dias.
A pandemia veio ajudar este tipo de negócio, e a empresa anuncia que registou um aumento de vendas de 250% desde março deste ano. Mas porquê?
Chantal Gispert, co-fundadora da GoodAfter, que além de Portugal também atua em Espanha, explica que as “pessoas não tiveram outra alternativa senão ficar em casa e fazer as suas compras online”, mas muitos dos supermercados “não conseguiram entregar a horas” e isso abriu a possibilidade de muitos descobrirem “as alternativas que existiam no mercado”.
“E quem não nos conhecia passou a conhecer-nos. Muitas pessoas ficaram fidelizadas e continuam a comprar a nós.”
As duas grandes vantagens
Chantal avança que a GoodAfter vende tudo o que seja “linhas obsoletas e produtos descontinuados”; por outras palavras, “tudo aquilo que o fornecedor já não consegue colocar no ponto de venda habitual”.
A líder deste projeto acredita que a mais-valia para o consumidor se vê em duas dimensões. “Primeiro, saber que os alimentos já não vão ser destruídos e um impacto importante nos bolsos, um preço muito mais económico.”
Os descontos, afiança, chegam aos 70% quando o prazo atinge o limite.
Apesar de serem os produtos fora do prazo ou a chegar ao limite da data para consumir que enchem a maior parte da lista disponível na GoodAfter, há casos em que bens dentro do prazo, mas com embalagens amolgadas, são vendidas a um preço com um grande desconto.
Chantal esclarece que este supermercado online só vende produtos não perecíveis − aqueles que têm no rótulo a indicação “consumir de preferência antes de...”.
“Não está em causa a lei alimentar e é por isso que a lei permite que a venda e o consumo seja possível ultrapassada essa data”, esclarece.
A responsável acredita que esta é uma moda que veio para ficar. “Há quatro ou cinco anos não se falava tanto. Os números são alarmantes, não podemos manter estes números de desperdício e desaproveitamento”, alerta.
Os produtos comercializados no website da GoodAfter vão desde bens alimentares, como enlatados, conservas e outros, a produtos não alimentares como champôs, amaciadores, ou produtos de limpeza. A GoodAfter trabalha com marcas como a Renova, Jerónimo Martins, Reckitt, Henkel, Cerealis, Nicola, Condi e Nobre, entre muitas outras. 10,5 toneladas poupadas
No dia em que se comemora o Dia Mundial da Alimentação, o diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), Gonçalo Lobo Xavier, diz que o setor tem procurado mitigar o desperdício alimentar.
Ainda assim, alerta que, em todo o ciclo de perda de alimentos, o retalho é apenas responsável por 5% do total. “Somos todos nós em casa que mais desperdiçamos, as famílias são responsáveis por 40% desse valor.”
O esforço das grandes cadeias de distribuição, segundo Lobo Xavier, traduz-se na criação de muitos espaços de venda de produtos, cujo prazo está perto do fim, a preços mais apetecíveis. Nas contas deste responsável, só no ano passado essas ações evitaram que 10,5 mil toneladas de alimentos fossem desperdiçadas.
O diretor-geral da APED reforça ainda que a ligação entre grandes superfícies e as IPSS é cada vez mais estreita. “Temos contactos com mil instituições de solidariedade social, que são quem no terreno está mais perto das pessoas que precisam e melhor consegue fazer escoar esses produtos”, remata.
Fonte: Renascença
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