“Este sistema permite uma produtividade 10 vezes superior à agricultura tradicional, poupa 90% da água e cerca de metade da energia e mão-de-obra”, disseram os três fundadores da Upfarming.
As upfarms ou hortas verticais rotativas têm seis metros de altura e são compostas por 22 prateleiras com mais de dois metros de largura cada uma. O primeiro exemplar do projeto está situado em Lisboa, mas o Porto é a próxima cidade a abraçar a iniciativa.
As hortas verticais começaram por ser um projeto do Atelier Parto, ligado à arquitetura, que visava ilustrar a Lisboa do futuro no âmbito da exposição Hortas de Lisboa – Da Idade Média ao Século XXI, que esteve presente no Museu da Cidade no ano passado.
No entanto, aquilo que nasceu como uma ideia para uma exposição de um museu acabou por se tornar realidade através da criação da Upfarming, uma iniciativa que tem como objetivo promover a sustentabilidade e a alimentação ecológica em centros urbanos, onde o espaço é mais limitado para a agricultura tradicional.
As hortas verticais ou upfarming têm seis metros de altura e acolhem 22 prateleiras rotativas, movidas por uma roda de água localizada na base da estrutura, a partir da qual também é feita a irrigação das plantas.“Este sistema permite uma produtividade 10 vezes superior à agricultura tradicional, poupando 90% da água e requerendo cerca de metade da energia e mão-de-obra”, disse, em entrevista ao ECO/Capital Verde, Bruno Lacey, um dos três fundadores da Upfarming e também CEO da Urban Growth, uma empresa social que cria e mantém espaços verdes em Londres.
Tiago Sá Gomes, outro dos fundadores da iniciativa, explicou que “da idealização à instalação da primeira horta vertical passou cerca de um ano”. Este primeiro projeto de agricultura vertical rotativa acabou por ser inaugurado a 1 de outubro de 2021.
Mas, apesar de o primeiro projeto ter nascido na capital, Margarida Villas Boas, também fundadora da Upfarming, garante que “o plano futuro é expandir esta iniciativa para mais cidades em que a escassez de terreno disponível para produção é um problema”.
A primeira expansão do projeto está prevista já para este ano, com a construção de mais hortas verticais no norte do país, mais precisamente na cidade do Porto. Depois de terem upfarms no norte e sul do país, Tiago Sá Gomes revelou que a ideia passa por seguirem com a mesma iniciativa para as restantes capitais de distrito.
“A principal vantagem do nosso sistema prende-se com a simplificação da cadeia de produção. Ao colocar a produção junto do consumo, reduz-se significativamente a necessidade de transporte, refrigeração, armazenamento e empacotamento. Além disso, a instituição que alberga a horta vertical apenas colhe o que vai consumir, o que deverá reduzir o desperdício alimentar”, ressalvou Margarida Villas Boas.
No entanto, as vantagens deste método não se ficam por aqui. A responsável acrescentou, ainda, que esta é uma solução “mais económica, modular e low-tech do que a maioria das tecnologias de agricultura vertical disponíveis no mercado”, além de ser muito acessível, uma vez que pode ser manuseada por qualquer pessoa, desde crianças, a seniores e pessoas com mobilidade reduzida.
A resistência à agricultura vertical vai ser “cada vez mais permeável”
Apesar de todas as vantagens que o novo método de cultivo traz, a verdade é que ainda se verifica alguma resistência na adesão a esta agricultura em detrimento da tradicional. Alguma desta resistência poderá ser justificada por alguns condicionamentos que a agricultura vertical traz, mas, ainda assim, há mais vantagens do que desvantagens.
“A nossa solução tem algumas restrições: a sua elevada produção torna-a mais adequada a um uso coletivo de comunidades com pelo menos 40 consumidores, sendo, por isso, desajustada para grupos de menor escala, e o seu peso leva-nos a considerar que estas estruturas são pouco adequadas para coberturas, criando por isso uma limitação do ponto de vista da versatilidade da sua instalação. Para resolver esta questão, temos procurado sondar tecnologias mais leves que possam servir este propósito”, referiu Margarida Villas Boas.
Bruno Lacey, por sua vez, reforça as mais-valias desta iniciativa e para isso apresentou alguns números que provam que a agricultura vertical é mais sustentável que a tradicional: “Um primeiro estudo teórico de life cycle assessment (LCA) indica que por cada tonelada de produtos hortícolas que plantamos, 30 quilos de carbono são poupados em relação à agricultura convencional, principalmente através de reduções no uso de água e material orgânico destinado a aterros”.
“Como esperamos produzir uma tonelada por torre por ano, e cada torre ocupa 10m2 (incluindo espaço de trabalho), isto significa cerca de 3 quilos de carbono poupados por ano por m2 de área construída da Upfarm.
Em termos de colheitas, contamos produzir cerca de 320 gramas por m2 por dia, o suficiente para fornecer a quatro pessoas os 80g de legumes frescos recomendados pela OMS por dia”, acrescentou o responsável.
No entanto, Margarida Villas Boas alertou que o futuro passa por enquadrar a agricultura vertical como um meio de produção complementar e não totalmente substituto da agricultura horizontal, na qual ressalvou os progressos que têm vindo a ser feitos, “como a reemergência de técnicas de agricultura regenerativa e os esforços que têm sido feitos para a plantação de agroflorestas”.
Ainda assim, e tendo em conta os números apresentados por Bruno Lacey, a fundadora não tem dúvidas ao afirmar que “com os efeitos cada vez mais presentes das alterações climáticas e os estímulos nacionais e internacionais para o desenvolvimento deste tipo de soluções, a sociedade tornar-se-á cada vez mais permeável a este tipo de alternativas mais radicais”.
|Fonte: Eco Sapo, 06 de Janeiro 2022
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