Com provas dadas em 18 países, a WhyWaste entra este ano em Portugal. Está já em negociações com um retalhista. Promete evitar o desperdício, melhorar as margens de lucro e otimizar recursos.
A sueca WhyWaste, tecnológica que promete reduzir os níveis de desperdício alimentar no retalho até 75%, está presente em 18 países – desde França ao Reino Unido, passando pelo Japão e Nova Zelândia – e prepara-se agora para entrar nos supermercados em Portugal.
“O tema do desperdício alimentar em Portugal é de alta preocupação”, frisa o country general manager da WhyWaste no Brasil, encarregue da expansão da startup para terras lusas. “Cabe não só a cada português pensar de que forma é que pode contribuir para reduzir os 100 quilos de alimentos que desperdiça anualmente, mas também aos retalhistas, que devem dar o exemplo”, sublinha Ricardo Salazar, ao ECO/Capital Verde.
Certo é que o problema do desperdiço alimentar não se cinge apenas às terras lusas. Estima-se que só na União Europeia, em 2020, tenham sido desperdiçadas quase 57 milhões de toneladas de alimentos, o equivalente a 130 mil milhões de euros. Portugal, apesar de não ocupar as posições do pódio (reservadas à Alemanha, França e Itália, respetivamente), surge com um total de 1,8 mil milhões de toneladas de alimentos desperdiçados.
Para materializar a entrada no setor nacional, a WhyWaste tem na mira a concretização de um contrato “com, pelo menos, um retalhista alimentar português” ao mesmo tempo que inaugura um escritório em Lisboa que servirá para prestar “apoio a clientes locais, com uma estrutura maioritariamente dedicada a vendas”. Depois de assentar a operação em Portugal, o objetivo é entrar no mercado dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), missão que será levada a cabo pelos 40 profissionais integrados na equipa e distribuídos por escritórios em quatro países.
O valor do investimento não foi revelado, nem com qual retalhista estão em negociações, mas certo é que a startup poderá chegar a Portugal com interesse em estabelecer ligações com marcas como o grupo Dia e Makro dado que, no Brasil, a WhyWaste já faz parte da operação destes dois supermercados.
as como funciona o serviço da tecnológica brasileira que, só em 2022, e evitou o desperdício de duas mil toneladas de alimentos? “Em Portugal, reparámos que existe alguma adesão a um sistema de monitorização digital, mas sem capacidade de aprendizagem. A nossa proposta de valor prende-se aqui: vamos recorrer a big data e inteligência artificial onde ela não está a ser utilizada, com o objetivo de otimizar processos”, explica o responsável.
Assim, com uma solução digital que acompanha o tempo de vida dos produtos, através de uma base de dados, na qual são inseridas as datas de validade de todos os alimentos, o sistema de inteligência artificial identifica quando é que um produto está numa data crítica, tendo em conta indicadores, como a procura e a sazonalidade.
“O objetivo é avaliar estas variáveis e ajustar o preço, resolvendoresolver dois desafios: convencer o cliente que este é um bom preço, sem destruir a margem ou a imagem do retalhista”, acrescenta Ricardo Salazar, referindo que este é “um trabalho contínuo onde há uma grande curva de aprendizagem, mas os resultados são quase imediatos”.
Para o responsável, a entrada da WhyWaste no retalho português permitirá aliviar também as margens líquidas que considera ser “cada vez mais apertadas”, variando em média entre 1% a 4%.
“Uma vez que o desperdício representa entre 2% a 3% da faturação, reduzir a perda alimentar significa melhorar a rentabilidade do próprio modelo de negócio do retalho alimentar e, em muitos casos, viabilizar o retorno financeiro da operação”, aponta Ricardo Salazar.
Mas os impactos não se ficam por aqui e, segundo o empreendedor, o serviço também serve para otimizar a alocação de recursos humanos, chegando a “reduzir em até 90% do tempo dedicado dos funcionários no trabalho de monitorar as datas de vencimento”. A título de exemplo, Ricardo Salazar conta ao ECO/Capital Verde como numa loja no Brasil, onde a WhyWaste está presente, conseguiu reduzir as 12 horas despendidas, em média, na gestão de datas de validade para cerca de 1h10.
A WhyWaste prepara a entrada em Portugal numa altura em que a inflação obrigou os portugueses a ganharem mais consciência e interesse em reduzir o desperdício alimentar.
Num estudo de junho de 2022, realizado pelo Capgemini Research Institute, é possível concluir que a consciência sobre o desperdício de alimentos mais que duplicou nos últimos dois anos, passando de 33% para 72%. Cerca de 55% dos consumidores assume combater o desperdício de alimentos para economizar custos e por questões de sustentabilidade.
O aumento dos preços dos alimentos, aliado à inflação que, em 2022, atingiu os 9%, é apontado pelo estudo como um dos principais motivos deste crescente interesse em reduzir o desperdício, como forma de economizar no orçamento familiar, em casa.
|Fonte: Eco Sapo, 10 de Janeiro 2023
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