Estimativas apontam que cerca de 10% das emissões de gases com efeito de estufa têm origem no desperdício alimentar, sendo que cada quilo de comida equivale a cerca de 2,5 quilos de emissões de Co2.
Combater as alterações climáticas também começa em casa e o passo mais importante, e fácil, é reduzir o desperdício alimentar, defende Mette Lykke da “Too Good To Go”, o projeto que salva do lixo os restos demasiado bons dos restaurantes.
Lançada em 2015 na Dinamarca, a aplicação “Too Good To Go” nasceu para dar uma segunda oportunidade os restos de comida servida nos buffets de restaurantes.
Dos buffets passaram depois a colaborar com pastelarias, supermercados, hotéis e cantinas, e da Dinamarca estenderam-se ao resto da Europa.
Quase seis anos depois, com presença em 17 países, incluindo Estados Unidos e Canada, 90 mil parceiros e 46 milhões de utilizadores, o número total de refeições salvas aproxima-se da meta dos cem milhões, o equivalente à emissão de 250 mil toneladas de dióxido de carbono (Co2).
“O desperdício alimentar é um problema por inúmeras razões, mas acho que a maior é por ser um grande problema ambiental”, sublinhou em entrevista à agência Lusa a diretora executiva da “Too Good To Go”, Mette Lykke, que está por estes dias em Lisboa, para participar na Web Summit.
As estimativas apontam que cerca de 10% das emissões de gases com efeito de estufa têm origem no desperdício alimentar e, por isso, Mette Lykke defende que o primeiro passo a dar no combate às alterações climáticas, e um passo que considera fácil, é reduzir o desperdício.
"Não acho que seja realista pensar que todos conseguimos atingir o nível de zero desperdício, mas se todos conseguirmos reduzi-lo para metade, e isso é muito fácil, então já percorremos um longo caminho e podemos continuar a partir daí”, sublinhou.
A “Too Good To Go” nasceu precisamente com o objetivo de contribuir para esse desígnio: Através da aplicação, os clientes reservam uma “caixa mágica” com uma refeição surpresa para levantarem no restaurante, pastelaria ou supermercado, e vendida com um desconto de cerca de 70% no preço.
“É um conceito em que todos têm a ganhar e, ao mesmo tempo, resolvemos um grande problema”, sustentou a diretora executiva para justificar o sucesso do projeto.
Da parte dos consumidores, é uma atitude com um impacto positivo para o ambiente, divertida pelo fator surpresa da “caixa mágica” e um bom negócio pelo preço reduzido, explicou Mette Lykke, acrescentando que para os parceiros, por sua vez, é uma forma de evitarem deitar comida boa fora, reduzirem o desperdício, e que ainda lhes permite atrair novos clientes.
Em média, salvam-se assim cerca de 190 mil refeições por dia, sendo que cada quilo de comida equivale a cerca de 2,5 quilos de emissões de Co2. Mas a “Too Good To Go” não pretende ficar por aí e o objetivo é, pelo caminho, mudar mentalidades.
"Para fazer a diferença, temos de mudar o nosso mindset e o nosso comportamento. Aquilo que queremos promover é uma espécie de movimento contra o desperdício alimentar”, reiterou a diretora executiva da empresa."
A forma positiva como nos vários países as pessoas reagiram à aplicação é um sinal que considera positivo nesse sentido, mas a empresa tem também desenvolvido um trabalho de cooperação com outras empresas e com escolas, neste caso para colocar o tema do desperdício alimentar na agenda tão cedo quanto possível, para que “as próprias crianças também possam sensibilizar os pais”.
Em casa, as mudanças são simples, apontou Mette Lykke, sublinhando a importância de saber ler os prazos de validade e conhecer a diferença entre “consumir até” e “consumir de preferência antes de”, fazer compras de forma inteligente para evitar comprar demasiada comida, e cozinhar receitas que permitam aproveitar os restos que estejam no frigorífico.
Em Portugal, a “Too Good To Go” está disponível desde 2019 e já tem presença em todos os distritos do país e nas regiões autónomas dos Açores e Madeira. Na semana passada, a aplicação atingiu a meta de um milhão de refeições salvas pelos 926 mil utilizadores, ou seja, 2.500 toneladas de Co2.
Mette Lykke participa esta quinta-feira na Web Summit, numa conversa sobre startups em ascensão, no último dia de mais uma edição da cimeira tecnológica em Lisboa, que regressou este ano ao modelo presencial, depois de a última edição ter sido online.
|Fonte:Observador, 04 de Novembro 2021
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