A Zero analisou dois documentos recentes que avaliam a sustentabilidade do país em vários campos. Portugal melhora num deles, mas piora no outro, e os maiores desafios de sustentabilidade que o país enfrenta estão dentro da área ambiental.
Dois relatórios revelados recentemente, que avaliam os países em termos de sustentabilidade, têm boas e más notícias para Portugal. Naquele que olha apenas para o espaço europeu, o país está melhor, mas o que abrange a realidade mundial põe-no a descer algumas posições. A Zero avaliou os documentos e não tem dúvidas: “É preciso uma estratégia” para o futuro. As prioridades, para a associação, depois de analisar os dados, estão definidas. “Devem ser a promoção de um consumo responsável e com menor desperdício, a qualidade de vida e bem-estar nas cidades, e ainda as áreas do clima, preservação e recuperação dos ecossistemas”, lê-se no comunicado a que o PÚBLICO teve acesso.
A conclusão surge depois da análise dos relatórios da Sustainable Development Solutions Network e do Institute for European Environmental Policy, relativo aos países europeus, e do cálculo e seriação a nível mundial do Índice de Desenvolvimento Sustentável (IDS), que mede a eficiência ecológica do desenvolvimento humano, reconhecendo que ele deve ser alcançado dentro dos limites do planeta. Portugal sai-se melhor na primeira análise, referente a 2021.
Aí, refere a Zero, Portugal fica em 20.º lugar, num conjunto de 34 países analisados, numa lista que é liderada pela Finlândia (1.º), a Suécia (2.º) e a Dinamarca (3.º). Não é uma posição de que nos possamos vangloriar, mas representa, ainda assim, uma subida de dois lugares, em relação à avaliação de 2020.
O relatório analisa o estado e a progressão de cada país em cada um dos 17 objectivos para o desenvolvimento sustentável estabelecidos pelas Nações Unidas em 2015, na sua Agenda para 2030, e, olhando para cada um deles, também há boas e más notícias.
A boa notícia é que não há uma tendência de diminuição de qualidade em qualquer um dos indicadores, e em vários deles, Portugal está no bom caminho para atingir os objectivos definidos pela ONU. É isso que acontece com os campos da pobreza zero, da igualdade de género, do acesso a água limpa e ao saneamento, na indústria, inovação e infra-estruturas e na redução das igualdades.
Mas, apesar deste bom sinal, a verdade é que o país não atingiu ainda qualquer um dos 17 objectivos definidos, e mesmo nestes campos com tendência positiva, há ainda desafios a serem ultrapassados, conclui-se no relatório.
Bom acesso à saúde
Para os restantes objectivos, há alguns com melhorias ligeiras (como bom acesso à saúde ou educação de qualidade, entre outros) e outros em que o país, segundo os critérios da avaliação, estagnou. E neste campo há três objectivos em que o relatório considera existirem ainda “enormes desafios” a serem ultrapassados. São eles a acção climática, a vida marinha e a vida terrestre.
"Portugal é particularmente penalizado pela sua posição no que respeita à pegada material por pessoa, representando os recursos naturais utilizados, bem como pelas emissões de dióxido de carbono que contribuem para as alterações climáticas”
Zero
Também estagnado, mas com desafios um pouco menores, para os autores do relatório, está o objectivo da produção e consumo responsável. E é aqui, exactamente, que o país acaba por ser mais penalizado no IDS, o outro documento analisado pela Zero.
Portugal aparece nessa lista na 71.ª posição, após a análise de 166 países. Os dados são referentes a 2019 e demonstram uma descida de três posições em relação ao documento do ano anterior, em que o país aparecia no 68.º lugar. “Portugal é particularmente penalizado pela sua posição no que respeita à pegada material por pessoa, representando os recursos naturais utilizados, bem como pelas emissões de dióxido de carbono que contribuem para as alterações climáticas”, considera a Zero.
Com estes pontos de partida, a associação ambientalista acredita que Portugal pode ultrapassar com relativa facilidade os pontos mais negativos apontados pelas duas avaliações, já que, refere, “tem um conjunto de ferramentas legislativas e políticas em vigor, ou em preparação, para enfrentar a maioria dos desafios”. A questão é que o país ainda “não tem uma estratégia clara” sobre como planeia atingir os objectivos para o desenvolvimento sustentável, diz. E sem uma estratégia, conclui a Zero, “Portugal continua a não ter uma abordagem integrada e abrangente” nessa matéria.
O conselho deixado pela associação é que o Governo desenhe essa estratégia, e até deixa uma achega: “Não precisa de ser um documento extenso e complexo, mas sim uma coordenação de objectivos e metas.”
|Fonte: Público , 04 de Janeiro 2022
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