Investigadores e cientistas veem nos feijões, nas ervilhas ou no grão-de-bico parte da solução para garantir produção suficiente de proteína para a população mundial.
Marta Vasconcelos, da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa do Porto.
© Carlos Pimentel / Global Imagens
Ricas em proteína, com reduzido impacto ambiental e essenciais para a vida humana, assim são as leguminosas. Apesar de ocuparem pouco espaço na despensa de um português típico, que consome cerca de quatro quilos destes alimentos por ano, ingredientes como o feijão, a ervilha ou o grão-de-bico são apontados como parte da solução para alimentar a população mundial. "Uma das tendências da alimentação é a troca da vaca pelo feijão", afirmou Marta Vasconcelos durante a conferência "A alimentação no futuro: evolução ou revolução?", organizada pelo Grupo Jerónimo Martins esta quarta-feira, em Lisboa.
A investigadora da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade do Porto defende mesmo que "estes feijões mágicos precisam, cada vez mais, de entrar na ribalta" e nas escolhas alimentares dos cidadãos. E há muitas razões para que assim seja. Desde logo pela redução da pegada ambiental das refeições à base de proteína animal, cujo consumo em Portugal e na Europa é considerado elevado, mas também pela sua importância nutricional. "Devíamos consumir cerca de 80 gramas de leguminosas por dia. Se conseguíssemos fazer isto todos os dias seria altamente benéfico para a nossa dieta", garante.
O especialista Pedro Graça confirma. "Se não consumirmos proteína em quantidade adequada, o nosso corpo falha", explica o diretor da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto. Este elemento essencial é particularmente importante para o desenvolvimento muscular e para o sistema nervoso central. Mas Pedro Graça diz ainda que, ao contrário do que se possa pensar, o equilíbrio na escolha saudável dos alimentos não é, necessariamente, um exercício complexo. "A nossa gastronomia tem um conjunto de pratos com proteínas equilibradas", sublinha, exemplificando com as ervilhas com enchidos e ovos escalfados. Cada um dos elementos - ervilhas, arroz e a carne - oferece o seu contributo que, em conjunto, suprime os desejos do sistema imunitário.
Embora reconheça que não existe "uma resposta única" ao desafio de alimentar milhares de milhões de pessoas em todo o mundo de forma sustentável, António Serrano acredita ser preciso investir em várias frentes. Sistemas de produção que protejam os ecossistemas, combate ao desperdício alimentar, promoção de dietas saudáveis e utilização da inovação e da tecnologia na indústria agroalimentar devem ser prioridades. "O nosso desafio é produzir mais e melhor com menos recursos", reforça o CEO da Jerónimo Martins Agro-Alimentar.
A tecnologia e a ciência têm sido os principais aliados de João Coimbra, líder da Quinta da Cholda, na produção de milhos e cereais de sequeiro. "Com a agricultura de precisão conseguimos detetar as áreas que mais produzem e é aí que investimos", exemplifica. A enxada deu lugar a drones, tratores autónomos e sistemas de inteligência artificial que ajudam a produzir mais, melhor e com respeito pela biodiversidade. "Temos zonas [da exploração] só para a conservação dos ecossistemas", diz, defendendo que seja cada vez mais este o futuro da agricultura.
O ovo vegetal que quer criar galinhas felizes
Daniel Abegão desistiu da carreira como investigador quando percebeu que "era muito difícil levar soluções [inovadoras] ao consumidor". Do laboratório para a atividade empresarial levou o "ovo sem galinha", uma alternativa vegetal ao alimento que cumpre dois objetivos centrais: preservar o bem-estar animal e contribuir para a inovação do setor.
"É uma alternativa ao ovo de galinha que, em breve, vai estar disponível em pó para consumo industrial", apontou o responsável da Plantalicious. Ao consumidor chegará, em 2023, uma linha que incluirá, além do ovo, uma "omelete pronta a consumir". "A nossa proposta são galinhas felizes", aponta.
|Fonte: Green Savers, 15 de Novembro 2022
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