A avassaladora onda solidária que inundou o país no início da semana, com iniciativas espontâneas de Norte a Sul para ajudar a população ucraniana, está a criar problemas de logística nas fronteiras com a Ucrânia. Para evitar o desperdício e garantir que toda a ajuda chegue efetivamente a quem precisa, as organizações não-governamentais apelam à cautela na doação de bens e explicam como é que os portugueses podem ajudar.
A forma "mais efetiva de ajudar no terreno" é através de donativos financeiros, para serem canalizados no local pelas organizações e utilizados para suprir as necessidades reais e mais prementes
Foto: Paulo Jorge Magalhães/Global Imagens
Com dezenas de pavilhões repletos de doações e camiões a serem carregados, todos os dias, para seguirem viagem em direção ao conflito, a Cruz Vermelha Portuguesa está a pedir às entidades e movimentos particulares a máxima coordenação, uma vez que a capacidade de logística e coordenação nas fronteiras está a atingir o limite.
Através das redes sociais, a organização informa que "as Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e Crescente Vermelho não estão a aceitar doações em espécie neste momento" por dois motivos. Primeiro, porque as organizações não-governamentais (ONG) que estão no terreno têm "exata noção das necessidades" e aproveitam o comércio local para comprar "o que é fundamental às respostas que a cada instante se tornam prementes", e depois porque há dificuldade na "receção e gestão" dos bens que chegam.
Ao JN, fonte da Cruz Vermelha Portuguesa revelou que está a tornar-se muito complicado gerir tantos bens que chegam às fronteiras com a Ucrânia, não só de Portugal, como de todo o Mundo. "O desperdício é claramente desnecessário, entope as fronteiras e torna-se complexo". O apelo é reiterado pelo Comité Internacional da Cruz Vermelha, que está a desaconselhar a angariação de bens como alimentos, medicamentos e roupa.
Donativos financeiros são a melhor forma de ajudar
A forma "mais efetiva de ajudar no terreno" é através de donativos financeiros, para serem canalizados no local pelas organizações e utilizados para suprir as necessidades reais e mais prementes. Para isso, a Cruz Vermelha Portuguesa tem disponíveis inúmeras formas de doar dinheiro, nomeadamente através de transferência bancária ou MB Way.
"É importante as pessoas estarem informadas e confiarem nas organizações", afirma ao JN Beatriz Imperatori. A diretora-executiva da Unicef Portugal garante que "a transparência é também um assunto sério" para a organização, que está há 25 anos na Ucrânia, e tem neste momento 140 pessoas espalhadas por várias regiões do país a prestar assistência humanitária.
Beatriz Imperatori alerta para o facto de o ambiente operacional na Ucrânia ser "extremamente complexo" e para o facto de as restrições de acesso e linhas da frente estarem em "constante mudança". Desta forma, a ajuda humanitária é fundamental para quem está no terreno. Através das redes sociais e de uma campanha criada no site da Unicef Portugal, é possível fazer a diferença. "Os donativos permitem que a UNICEF responda às necessidades mais prementes que vão surgindo".
Dicas para orientar recolhas de bens
De forma a orientar as inúmeras iniciativas de recolha de bens em espécie, a Cruz Vermelha Portuguesa aconselha a que sejam seguidos três pontos: primeiro, perceber quais são as efetivas necessidades, através do contacto com alguma organização ou associação que esteja no terreno; segundo, planear o percurso e garantir que os produtos vão devidamente armazenados; terceiro, garantir que há uma equipa preparada para os receber à chegada.
"Reconhecemos a imensa generosidade, mas não vale dar tudo que temos em casa para ajudar, só porque sim. Até num processo de solidariedade, a organização e o planeamento são extremamente importantes", assegura ao JN fonte da Cruz Vermelha Portuguesa.
|Fonte: JN, 04 de Março 2022
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