A adega Lemos Figueiredo quer acabar com o desperdício em Portugal e utiliza frutas feias na produção de bebidas artesanais, que habitualmente são rejeitadas pelo consumidor por não serem bonitas.
Na União Europeia, cerca de 50 milhões de toneladas de frutas e legumes vão para o lixo todos os anos. Já em Portugal um terço da fruta produzida também é desperdiçada, de acordo com o Perda. O desperdício alimentar nos países industrializados ascende a 1,3 mil milhões de toneladas por ano, suficientes para alimentar cerca de 925 milhões de pessoas que todos os dias passam fome, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.
A empresa familiar Adega das Frutas de Alcobaça, que se dedica à produção de bebidas artesanais utilizando as frutas da região, quer acabar com o desperdício em Portugal e dá uma segunda vida às frutas feias da região. Um mercado que gera valor para os agricultores e consumidores e combate tanto o desperdício alimentar como o gasto desnecessário dos recursos utilizados na sua produção.
A empresa foi criada em 2016 e começou por produzir ginja e vermouth, seguindo as tradições centenárias da família. Mais recentemente, lançou também um dry gin utilizando a maçã como ingrediente principal, sendo o primeiro e único gin certificado pela insígnia Maça de Alcobaça.
Este gin distingue-se não só pelo uso da Maça de Alcobaça na destilação, como pelo cariz sustentável, uma vez que utiliza fruta feia, não comercializável. A responsável de marketing da Adega conta ainda que com o gin Casanova utilizam exclusivamente as maças habitualmente rejeitadas pelo consumidor por não serem bonitas (…) Assim, a cada copo, o consumidor sabe que está a contribuir para um mundo melhor”, realça.
A Adega foi mais além e apresenta o gin numa garrafa de vidro reciclado, com um rótulo de papel cotton, reciclável, biodegradável e livre de plástico. O Casanova é o primeiro gin em garrafa de vidro reciclado, contribuindo igualmente para a diminuição da produção de dióxido de carbono nesse setor: por cada seis toneladas de vidro reciclado utilizado, a produção de CO2 é reduzida em uma tonelada. A utilização de vidro 100% PCR (vidro reciclado pós-consumo) faz com que não existam duas garrafas iguais e essa imperfeição é aceite tal como acontece com as maças Casa Nova utilizadas, que dão o nome ao produto.
“Sabemos que, hoje, não basta ter um bom produto, é importante ter um produto que marque pela diferença e que acompanhe as preocupações dos consumidores — e a sustentabilidade é uma delas”, explica Mariana Figueiredo, master distiller e responsável de marketing da adega.
Também o Hernandez, vermouth que segue a tradição do avô espanhol Salomão Hernandez, utiliza as maças feias da região, juntamente com uma seleção de outras 16 frutas, raízes e ervas, como a artemísia.
Este projeto de cariz familiar arrancou com a ginja, que envolve o pai, Salomão Figueiredo, e os três filhos: “Comecei a fazer ginja caseira na nossa garagem e a dar a provar à família e amigos. O resultado agradou-nos e rapidamente percebemos que tinha potencial para ser mais do que uma brincadeira. Com o entusiasmo de todos — e apesar de nenhum estar ligado a esta área –, começámos a reunir-nos cada vez mais na garagem e a fazer experiências”.
Depois de muitas experiências em família, o fundador, Salomão Figueiredo, conta que “hoje têm uma adega com produtos dos quais muito” se orgulham. “Refletem um pouco de cada um de nós, mas também a tradição, amor e união que fazem parte da nossa família”, destaca.
Depois de estagiar em barris de carvalho francês durante, pelo menos, dois anos, a Ginja Lemos Figueiredo apresenta um tom ruby e sabor frutado que já conquistou várias distinções internacionais e nacionais: em 2020, foi medalha de ouro no Monde Selection Bruxelles, medalha star no Internacional Taste Institute Brussels e prata na competição Spirits Selection. Ainda no ano passado, arrecadou prata e bronze nos IWSC Spirits Awards e, já este ano, foi galardoada com a medalha de ouro no décimo Concurso Nacional de Licores Tradicionais Portugueses.
| Fonte: Eco Sapo 09 de Junho 2021
Kommentare