Portugal desperdiça, em média, um milhão de toneladas de alimentos por ano. Um vídeo divulgado nas redes sociais lançou a polémica e a Renascença foi saber mais, junto da Associação de Empresas de Distribuição e do Banco Alimentar.
6 Agosto 2020 Renascença
Numa altura em que muitas pessoas passam mais dificuldades por causa da pandemia de Covid-19, o desperdício alimentar assume ainda mais relevância. Segundo o diretor-geral da Associação de Empresas de Distribuição (APED), os consumidores são quem mais desperdiça comida.
“Os estudos indicam que no retalho, a distribuição é responsável por 5% do total de desperdício alimentar, já os consumidores domésticos são responsáveis por 42%”, indica
Gonçalo Lobo Xavier à Renascença.
Em média, Portugal desperdiça um milhão de toneladas de alimentos por ano, muitas delas deitadas ao lixo por super e hipermercados, como mostrou um vídeo que circulou nas redes sociais.
“Não podemos ter na loja produtos em fim de vida que, do ponto de vista legal e do ponto de vista da qualidade alimentar, não cumpram os requisitos necessários”, explica o diretor-geral da APED.
O responsável reconhece que os supermercados são obrigados a adotar práticas muito exigentes para assegurar a qualidade alimentar dos produtos e a saúde dos consumidores, mas admite que “há procutos que não estão, do ponto de vista comercial, disponíveis para serem apresentados em loja e têm a qualidade suficiente para serem consumidos e doados”.
Nesse sentido, garante, são cada vez mais as medidas adotadas pelos supermercados para combater o desperdício alimentar, nomeadamente através da venda de produtos em final de prazo a preços reduzidos ou no aproveitamento dos chamados "legumes feios" para sopas.
Depois do primeiro vídeo que correu as redes sociais, os autores lançaram um segundo, no qual confirmam o desperdício de outra grande superfície.
Ponte frágil entre supermercados e instituições
Porque não chegam mais “sobras” dos supermercados às famílias portuguesas carenciadas? Gonçalo Lobo Xavier aponta para uma carência no voluntarismo.
“Há cada vez mais voluntários junto das IPSS para levantar os produtos nas nossas instalações. Temos muitos protocolos com estas instituições, mas também verificamos que nem sempre há o voluntarismo das pessoas para fazer chegar, em tempo útil, os produtos às famílias mais necessitadas”, afirma.
São mais de 700 as instituições privadas de solidariedade social (IPSS) que recebem alimentos para entregar a famílias carenciadas. No ano passado, foram entregues mais de 16 mil toneladas de alimentos, o que representa um crescimento de 14 % em relação ao ano anterior.
Então, o que se passa? Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, explica que o problema não está na falta de voluntários, mas nos horários de recolha.
“Estamos a falar muitas vezes de produtos perecíveis, como o pão, os bolos, fruta já madura, legumes que já não podem ser vendidos e todos estes produtos requerem um cuidado, seja na sua angariação seja depois na sua distribuição. E a grande questão que existe hoje é sobretudo logística, de horários. As cadeias de distribuição, os supermercados fecham às 21h00, quase todos à mesma hora, há ainda os hipermercados que encerram mais tarde e a essa hora a maior parte das instituições de solidariedade social já está encerrada”, começa por dizer.
Neste sentido, “mesmo havendo boa vontade de voluntários, há aqui um desajuste entre as horas a que se pode recolher os produtos e aquelas em que estes produtos podem ser distribuídos e entregues”.
Nestas declarações à Renascença, Isabel Jonet diz ainda que é preciso ter cuidado com os vídeos que alertam para o desperdício alimentar quando não se conhece a realidade e as dificuldades logísticas no terreno.
Fonte: Renascença
Comments