Teresa Almeida
Numa altura em que se adensam as dúvidas sobre o impacto do conflito na Ucrânia e da pandemia na disrupção das cadeias logísticas globais e a sua incidência nos circuitos dos produtos agrícolas, é com grande expectativa que se promoveu a assinatura da Carta de Princípios e de Compromissos que constitui um marco na dinamização da FoodLink - Rede para a Transição Alimentar na Área Metropolitana de Lisboa.
Mas se o contexto atual nos mostra a importância desta iniciativa, é importante sublinhar o que ela representa, de facto, do ponto de vista ambiental, económico e social.
Na verdade, temos focado muito a nossa atenção na transição digital e na transição energética. Contudo, parece ter chegado o momento de nos focarmos, também, na transição alimentar. Esta transição não se limita à adoção de hábitos alimentares mais saudáveis e sustentáveis, mas, foca-se também, na necessidade de diversificarmos as fontes de abastecimento alimentar, torná-las mais próximas do local de consumo. Pensar o planeamento alimentar numa escala regional, considerando todas as suas componentes (produção, distribuição, consumo, resíduos / desperdício alimentar), tendo por princípio uma gestão eficiente de recursos (solo, água, energia).
A Rede FoodLink tem, exatamente, esse objetivo, além de que pretende potenciar a valorização social, económica e ambiental dos espaços com uso agroflorestal da Área Metropolitana de Lisboa, que é também, a principal concentração urbana do país. vincando que a produção de alimentos e de serviços ambientais tem um significativo papel a desempenhar no sistema alimentar urbano.
Para os parceiros da Rede esta é, simultaneamente, um desafio e uma oportunidade. Um desafio na ótica da autonomia e segurança alimentar, dado que para abastecer 2,8 milhões de residentes (27% da população nacional) importamos 54% dos alimentos consumidos de fora do país, e 31% das restantes regiões nacionais (dados 2018). Uma oportunidade de contruirmos circuitos mais curtos, de maior proximidade produtor-consumidor, que são favoráveis às metas do combate ao desperdício, à economia circular e à redução da pegada de carbono. Ou seja, elementos que também fazem parte da agenda no combate às alterações climáticas e que, por isso, devem merecer toda a nossa atenção.
Assim, ao consagrar o objetivo de assegurar, em 2030, 15% do aprovisionamento alimentar da AML, em modos de produção sustentáveis, em redes de distribuição de baixo carbono e em circuitos alimentares de proximidade que cumpram com os critérios de inclusão e segurança alimentar, esta Rede é um instrumento valiosíssimo para a construção do nosso futuro coletivo.
Para além da valorização do território e dos seus recursos, a FoodLink é, também um contributo fundamental para a coesão das comunidades e para a sociabilização dos espaços, numa lógica de reencontro do Homem com a Natureza e de fortalecimento das sinergias rural-urbano.
No atual contexto, de profundas transformações à escala global, os trabalhos desenvolvidos no âmbito da Rede FoodLink vêm tornar mais evidente que o nosso futuro não depende apenas das inovações resultantes da digitalização ou das energias renováveis, mas, primordialmente, da forma como usamos o território e de como, a partir dele, poderemos assegurar a nossa sustentabilidade futura.
Presidente da CCDR LVT
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